Reflexões

Homem é homem, Deus é Deus!

A Bíblia conta a história de um cego, mendigo, sentado à beira do caminho numa cidade chamada Jericó. Nessa ocasião ele ouviu numerosa multidão passando e, ao saber que Jesus estava ali, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim” (Marcos 10:47). Neste momento, algo no mínimo confuso aconteceu: as pessoas começaram a repreendê-lo para que se calasse.

Toda aquela multidão sabia quem era Jesus, conhecia Seu poder. Por que então mandar um homem com tamanhas necessidades se calar diante da sua oportunidade?! Não sei se eram bajuladores e julgaram que aquele homem importunava o Mestre. Talvez se incomodaram com os berros angustiantes, ou até mesmo com a aparência e mal-cheiro daquela pessoa maltrapilha. Que cena complicada e triste! Uma multidão andando ao lado de Jesus e reagindo com tal dureza!

Sei que homem é homem e Deus é Deus, por isso, como homem, olho para esta cena bizarra com temor e me sinto advertido para que, andando eu com Jesus, não seja apenas um religioso, mero conhecedor teológico impregnado de egoísmo e praticante do “EUvangelho”. O egoísmo é tão danoso que nos faz ser hiper sensíveis às nossas próprias necessidades e endurecidos com os outros, mesmo quando suas necessidades são tão claras. A centralização do “EU”nos torna indiferentes aos demais.

“…mas ele (o cego mendigo) cada vez gritava mais…” (Marcos 10:48).

Enquanto escrevia este texto fechei meus olhos e me imaginei no lugar deste homem, não vendo quem, nem quantos, me mandavam calar a boca. Me imaginei ferido por dentro pelos traumas da vida nas ruas, me esforcei para extrair ao máximo o quanto lhe custou esta atitude. Que reação espetacular! Ele não deu atenção para a dureza e indiferença dos homens, pôs total atenção na pessoa certa, em Jesus. Bartimeu era o seu nome, filho de Timeu. Anos mais tarde um dos relatores desta história, Marcos, registrou seu nome e ascendência, talvez porque se tornara um grande discípulo de Jesus. Sua coragem, fé, perseverança, e foco na pessoa certa, tornaram-se e continuarão se tornando conhecidos por gerações.

“Parou Jesus e disse: Chamai-o” (Marcos 10:49).

Sem dúvidas Deus não resiste atitudes como essa. Ele está atento aos corações crédulos, corajosos, perseverantes, que sabem separar entre os limites da dureza e insensibilidade humana e Sua infinita bondade.

Nesta hora alguns da multidão encorajaram a Bartimeu, talvez caindo em si ou sensibilizados.

Entre Jesus e  Bartimeu ocorre um curto diálogo, mas que podemos extrair profundo ensino.

“Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça?” (Marcos 10:51).

De fato essa pergunta, que parece óbvia, gera indagações. Já vi pessoas, como eu, querendo entender seriamente por que Jesus fez tal pergunta. Ouvi dizer que um pastor falou em tom de brincadeira que Deus tem senso de humor e por isso fez tal pergunta. Contudo, um amigo, companheiro e pastor, Sergio Franco, falou sobre sua visão a qual concordei de imediato. Homem é homem, Deus é Deus. Como disse Isaías “…Toda cabeça está doente, e todo coração, enfermo” (Isaías 1:5). O próprio Jesus também diz: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5:31.32).

Toda a Bíblia e nossa própria experiência mostram o quanto somos maus por natureza. Muitas vezes tentei ajudar moradores de rua a mudarem de vida, já ouvi inúmeros casos que, como os que aconteceram comigo, não foram bem-sucedidos. A pessoa precisa dar uma resposta positiva ao investimento, ela tem que se tornar protagonista de sua vida debaixo da orientação do Divino Diretor. O vitimismo, pessimismo e o fatalismo paralisam o ser humano na inércia e na improdutividade, levando-o a culpar as circunstâncias e a usar suas dores e feridas como ferramentas de manipulação dos outros.

Pasmem! Mas Bartimeu poderia não querer ser curado.

Já tivemos experiências pastorais em que pessoas não quiseram ser curadas porque usavam suas enfermidades físicas, e também emocionais, como instrumentos de manipulação para alcançar seus propósitos. É bizarro, mas real! Na verdade isso é mais comum do que se imagina. Já vi pessoas fazerem isso por preguiça, por orgulho, por vingança, por egoísmo, por ciúmes, por inveja e por aí vai.

“Respondeu o cego: “Mestre, que eu torne a ver” (Marcos 10:51).

Quero ver!! Não quero manipular, não sou um coitado. Quero ver a Sua glória, quero ter experiência Contigo, quero ser protagonista da minha história tendo Você na direção.

Essa história não fala só de um cego e de apenas um tipo de cegueira, ela pode nos ajudar a ver também. O quanto usamos do “coitadismo” para manipular? Quão covardes podemos ser frente a escuridão, reprovações e críticas? Como endurecidos e insensíveis podemos as necessidades alheias?

“Então, Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente tornou a ver e seguia Jesus estrada fora” (Marcos 10:52).

Homem é homem, Deus é Deus.

Sou homem, e quero ser protagonista da minha história seguindo o Divino Diretor estrada a fora.

Em Cristo,
Sandro Lourenço de Souza

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