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Pré-tribulacionismo: equívocos à luz da Bíblia

O que é pré-tribulacionismo?

O pré-tribulacionismo é uma corrente escatológica, muito popular entre os evangélicos, que defende a tese de que o arrebatamento da igreja acontecerá antes do período conhecido como Grande Tribulação. Para essa corrente, a igreja seria arrebatada para encontrar o Senhor nos ares e aguardaria por um período de 7 anos. Enquanto isso, aqui na Terra ocorreria a Grande Tribulação, e ao final desse período a igreja retornaria com o Senhor, o que seria propriamente a Segunda vinda de Cristo.

Apesar de muito popular, essa corrente é relativamente nova na história do Cristianismo. Ela só foi formulada detalhadamente no século XIX. Porém, a maior falha dessa teoria é a forma como ela escolhe os textos bíblicos a fim de montar os argumentos. Em vez de interpretar os textos de interpretação difícil à luz dos textos claros, contundentes e com afirmações explícitas, o pré-tribulacionismo se sustenta em interpretções de textos não muito claros, como alguns textos proféticos, e a partir de então tenta encaixar os textos claros dentro dessas interpretações.

Essa escolha é um grave erro, pois não temos necessidade alguma de reinterpretar o que Jesus e seus apóstolos já interpretaram e falaram claramente. É certo que toda a Escritura é inspirada por Deus, e nenhum texto deve ser desprezado ou descartado. Porém, se existem textos claros, temos que analisar os textos com significado mais obscuro à luz dos textos claros. Se Jesus ou seus apóstolos já falaram sobre o tema, temos que olhar os textos proféticos do Antigo Testamento à luz do que eles falaram. Afinal, no Monte da Transfiguração, onde estavam Moisés e Elias juntamente com o Senhor Jesus, o Pai declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:5). O autor da carta aos Hebreus entendeu isso muito bem e escreveu:

“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hebreus 1:1,2).

Os apóstolos foram aqueles homens designados para dar testemunho de Jesus (João 15:26,27) e transmitir todas as coisas que Jesus nos ensinou (marcos 3:13,14; Mateus 28:18-20). Por isso, devem considerar o que foi ensinado pelos apóstolos.

Desde que o Senhor Jesus foi elevado aos céus, a grande expectativa dos cristãos, em todas as gerações, é o retorno do Mestre. No momento da ascensão de Jesus, dois anjos apareceram aos discípulos e disseram:

“Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (Atos 1:10).

Como disse o autor da carta aos Hebreus:

“assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hebreus 9:28).

Os equívocos do pré-tribulacionismo à luz do ensino de Jesus.

Jesus por diversas ocasiões falou sobre sua segunda vinda:

Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24:29-31).

Embora Jesus tenha dito que ninguém sabe o dia em que se dará a sua vinda, Ele deixa claro que isso só ocorrerá depois de uma tribulação (“logo em seguida à tribulação daqueles dias…”). E no momento de sua Vinda, os anjos reunirão os escolhidos do Senhor. Se tivéssemos apenas esse texto de Mateus 24, só teríamos uma conclusão: Haverá uma tribulação na terra e apenas ao final desse período é que acontecerá a volta de Jesus e a reunião dos seus escolhidos. E a volta de Cristo será pública, pois “todos os povos da terra se lamentarão”. Não caberia qualquer outra interpretação se tivéssemos apenas esse texto. Mateus 24 descreve um período de grande aflição na terra, e prepara os cristãos para isso. Ora, não faria sentido algum preparar os cristãos para isso se eles não estivessem aqui na Terra durante essa tribulação.

“porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mateus 24:21,22).

Quando Jesus descreve a grande tribulação, declara que ela foi abreviada por causa dos escolhidos. Não diz que eles não estarão aqui, pois só se reunirão com o Senhor quando este voltar, “logo em seguida à tribulação daqueles dias”. Isso não dá margem alguma para tese defendida pelo pré-tribulacionismo.

O texto de Mateus 24  apresenta uma ordem dos eventos: Grande Tribulação ➤ Reunião dos escolhidos na volta do Senhor. Essa ordem está totalmente coerente com outras passagem em que Jesus falou sobre sua vinda.

Em Mateus 13:37-43, ao explicar a parábola do trigo e do joio, Jesus ensina que a separação entre justo e injustos se dará somente na sua vinda:

“E ele respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça” (Mateus 13:37-43).

Em seguida, Jesus repete a mesma ideia:

“O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13:47-50).

Se considerarmos apenas o ensino de Jesus, não encontraremos qualquer ideia que dê margem ao pré-tribulacionismo. E esse fato já deveria nos deixar atentos, pois não podemos pegar um texto enigmático e interpretá-lo de forma que esteja em contradição com a clareza do ensino de Jesus.

Os equívocos do pré-tribulacionismo à luz do ensino de Paulo.

Em sua primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo busca consolar seus leitores no que diz respeito aos irmãos que morrem antes da volta do Senhor. À medida que aqueles cristãos começaram a perder irmãos pela morte,  foram tomados de tristeza, pois pensavam que aqueles que haviam morrido não presenciariam o retorno do Senhor. Por isso o apóstolo escreve para corrigir essa visão e consolar os irmãos com a seguinte verdade: não haverá arrebatamento sem que os mortos em Cristo ressuscitem primeiro. Paulo é categórico na afirmação de que  a ressurreição dos justos antecederá o arrebatamento:

“Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiroDepois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (I Tessalonicenses 4:15-17).

O apóstolo apresenta os eventos na seguinte ordem: Ressurreição dos justosArrebatamento ➤ Encontro com o Senhor. E ele é enfático ao afirmar que, na volta do Senhor, de modo algum os vivos precederão os que dormem.

Paulo já havia ensinado isso aos Coríntios, ao escrever sobre a ressurreição:

“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados (I Coríntios 15:51,52).

Na segunda carta aos Tessalonicenses, Paulo completa seu ensino sobre a ordem dos eventos relativos à volta do Senhor:

“Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição (II Tessalonicenses 2:1-3).

Aqui Paulo acrescenta um evento anterior à vinda do Senhor e à nossa reunião com Ele: a manifestação do Anticristo, o filho da perdição. Então, à luz do ensino claro de Paulo, podemos dizer que os eventos se darão na seguinte ordem: Manifestação do Anticristo ➤ Ressurreição dos justosArrebatamento ➤ Encontro com o Senhor.

Quem estará na ressurreição dos justos?

A ordem dos eventos está claramente estabelecida à luz do ensino de Jesus e de Paulo. Sabemos que a ressurreição dos justos, o arrebatamento e o encontro com o Senhor são eventos que acontecem quase concomitantemente, um logo a seguida do outro. Porém, nada disse acontecerá antes da manifestação do Anticristo. Portanto, temos mais um forte indício de que o arrebatamento não acontecerá antes da Grande Tribulação. E isso é confirmado pelo texto de Apocalipse 20:4-6, quando fala sobre os que participarão da primeira ressurreição (a ressurreição dos justos):

“E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição” (Apocalipse 20:4,5).

Se na primeira ressurreição estavam os mortos por não adorarem a besta, logo essa ressurreição contará com gente que passou pela Grande Tribulação. E isso é totalmente coerente com o ensino que Jesus e de Paulo. O arrebatamento e nosso encontro com o Senhor não ocorrerão sem que antes os justos ressuscitem. E nessa ressurreição já estarão pessoas que foram mortas na Grande Tribulação por causa do testemunho de Jesus. Mais uma vez vemos que o pré-tribulacionismo não se sustenta à luz dessas verdades.

Também vemos em Apocalipse está registrada uma visão dos mártires da Grande Tribulação:

“Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos;… E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:9,13,14).

Conclusão

Como vemos, à luz dos textos claros sobre a volta do Senhor, o pré-tribulacionismo não se sustenta. Todo seu argumento se fundamente em interpretação de textos com significado não muito claro, e a partir disso tentam encaixar os demais textos, violentando a clareza dos mesmos.

Ao falarmos sobre os equívocos sobre o pré-tribulacionismo, nosso objetivo não é agredir a fé de ninguém, mas é apenas apresentar os fatos tal como relatados na Bíblia. Queremos estar atento a tudo o que o Senhor nos ensinou.

“Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (II Pedro 3:10-14).

Em Cristo,
Anderson Paz