Reflexões

“Ninguém manda em mim!”

Recentemente, em uma conversa com um casal, a esposa estava reclamando da ausência da ausência do marido, de sua frieza e distanciamento. Por sua vez, o marido reclamava da esposa, dizendo que ela era exigente demais e ciumenta. Enfim, eu estava presenciando uma quadro que não é muito difícil de encontrar, algo que é comum em muitos casais.

Naquela conversa, o marido falava que a exigência da esposa fazia com que ele não quisesse dar atenção e carinho. A exigência contribuía mais para afastá-lo de casa do que para aproximá-lo. Essa é uma resposta muito comum que alguns homens dão ao viver uma situação dessas.

Isso me fez lembrar de uma situação da minha infância. Fazia parte da minha rotina todas as noites levar o lixo para fora de casa. Só que, por vezes, meu pai esquecia que isso já era um hábito meu, e mandava eu colocar o lixo fora. E então, aquilo que eu fazia naturalmente, por hábito e por rotina, sem ninguém mandar, eu já não queria mais fazer quando eu era mandado. Fazia contra a minha vontade.

Como pode o fato de alguém mandar me tirar a vontade de fazer aquilo que eu faria naturalmente? Acredito que isso pode acontecer por, pelo menos, duas razões.

Quando uma pessoa  manda ou exige que façamos algo que já fazemos, um sentimento ruim pode surgir em nós por considerarmos aquela pessoa como ingrata, por não perceber o que você já fazemos. No caso do filho, ele pode pensar que o pai não percebe sua obediência. No caso do marido,  ele pode pensar que a esposa não reconhece seu carinho. Nos sentimos mal quando as pessoas não reconhecem nosso trabalho, amor, carinho ou serviço. E isso já nos indispõe a continuar amando, dando carinho, atenção etc..

Existe outra coisa que também pode nos deixar indispostos quando somos exigidos de algo. Sofremos a tentação de não fazer o que faríamos naturalmente porque não queremos que a pessoa pense que estamos fazendo por causa da exigência. Eu não sei se você passa por isso. Mas eu passei por isso lá atrás. Eu não queria que meu pai pensasse que eu estava levando o lixo porque ele havia mandado. Disso vinha a indisposição.

É possível que você passe por isso também: não querer que os outros pensem que só está  fazendo algo porque foi mandando ou exigindo. Na verdade, nós não gostamos de deixar as pessoas pensarem que têm poder sobre nós, que têm ingerência sobre a nossa vida. E esse é um grande problema, principalmente quando temos um coração soberbo.

Quando um coração soberbo vê que outra pessoa pensa ter poder sobre ele, já não quer fazer o que faria espontaneamente, sem que outra pessoa exigisse. Nossa soberba é o principal empecilho para seguirmos nos passos de Jesus.

A soberba precede a ruína, e a altivez de espírito precede a queda. Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. E como precisamos da graça de Deus, devemos nos colocar na condição para recebe graça: a humildade. Temos que nos humilhar, nos rebaixar muitas vezes, pra receber graça. Deixar que os outros pensem que tem poder sobre nós é uma coisa que nos humilha e nos quebranta, mas que não deveria ser um problema para nós.

Voltando àquela primeira história, da esposa que era muito exigente, o fato da esposa exigir atenção e carinho do marido, não exime o marido do seu dever de amar a esposa como Cristo amou a igreja. Ele tem que amar a esposa que não é exigente, ele tem que amar a esposa que é rixosa, como é descrita em Provérbios, e tem que amar a esposa que exige demais. Amar como Cristo amou. A exigência de uma parte não isenta a outra parte de um dever. Isso acontece na relação entre pais e filhos, entre patrão e empregado, e sempre que existe uma relação que envolve autoridade e submissão.

A submissão, ou o até o simples fato de uma pensa se sentir com poder sobre nós, nos quebranta, nos humilha, trata com o nosso ego, trata com a nossa imagem, com o que pensam de nós. Mas é um exercício muito bom pra quem quer se humilhar e receber graça de Deus. Não se esqueça que a graça é melhor do que a vida, que ela nos basta. Como o Senhor disse a Paulo: “a minha graça te basta, o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Então, o poder de Deus é aperfeiçoado quando nós nos quebrantamos. Quando estamos fracos, é aí que o poder de Deus se evidencia.

Portanto, aproveite as oportunidades para se humilhar: seja a submissão, seja a confissão de pecados, o pedir perdão, o perdoar etc.. Todas essas atitudes nos humilham. E a gente deve aproveitar essas oportunidades, porque ninguém perde por se humilhar. Você vai receber graça. Isso é um dos investimentos mais seguros que existe. Não tem como você perder se humilhando.

Em Cristo,
Anderson Paz