Reflexões

O doador e o dom

Temos presenciado diariamente uma grande onda de negativismo. Praticamente só ouvimos notícias ruins que procedem de todas as partes do mundo. Como cristãos, sabemos que todo esse caos é uma consequência da falta de relacionamento do homem com Deus. Em toda a história bíblica vemos isso se repetindo. Mas a Bíblia diz que quem governa, domina e reina poderosamente sobre tudo é o Senhor e só a Ele devemos temer. Ele não apenas reina soberanamente, como também trouxe à humanidade a grande solução para a crise e o caos em que esta se encontra.

Às vezes, até de forma subjetiva, as pessoas dizem que Jesus é a solução, mas não têm muita ideia do que isso significa ou no que implica realmente. Podem até acreditar nessa afirmação, mas só depois que realmente começam a andar com Jesus é que entendem de verdade que Ele é a solução final e completa de Deus para o homem e para a Terra. Descobrem que Jesus não apenas morreu pelos nossos pecados, mas também ressuscitou dos mortos, nos deu vida juntamente com Ele, nos fez filhos de Deus e, como filhos, passamos a ter direito de receber o Espírito Santo em nossas vidas. O Espírito em nós é que, de fato, faz toda a diferença.

Quando Jesus entra na vida de uma pessoa, Ele o faz de fato e de verdade – Ele vem morar dentro desta pessoa (João 14:23) trazendo uma solução permanente para sua vida. Assim, no propósito e vontade de Deus, deveríamos ser pessoas cheias da Sua presença. Mas, por que isso não acontece com todos os cristãos?

Quando Paulo escreve aos Coríntios, ele trata com uma igreja que estava vivendo um verdadeiro caos. Era uma igreja cheia de dons, cheia de gente, mas cheia de problemas. Imaginemos hipoteticamente que a nossa vida está exatamente da mesma maneira, e Paulo nos escreve para propor a solução de Deus para esta situação:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Coríntios 13:1-3).

Paulo diz que não seremos ou faremos nada proveitoso se o Amor não estiver presente, de fato, em nossas vidas. A falta do amor torna os nossos dons, a nossa generosidade e a nossa entrega, incompletas, insuficientes e inúteis.

Particularmente, eu sempre acreditei que uma pessoa que dá seus bens a outro é porque realmente a ama. Sempre acreditei que o ato de sacrificar a própria vida é a maior prova de amor. Até que um dia tive contato com um homem que acreditava fortemente na salvação exclusivamente pela prática das boas obras. Ele defendia as benevolências, entregas e doações mas não estava disposto a continuar casado com sua esposa. Isto me chamou muito a atenção, pois eu já tinha ideia da importância da relação do amor entre marido e mulher (Efésios 5:25-28). Neste dia entendi perfeitamente que o homem pode dar todos os seus bens, fazer muitas coisas boas, mas não amar de fato. Compreendi que muitos dão seus bens para se “sentirem” ou “ficarem” bem com Deus e parecerem que são generosos para as outras pessoas. Podem fazer tudo isso, entretanto, sem renunciar suas próprias vidas. O homem pode abandonar a esposa e seguir falando em línguas; maltratar a família e seguir profetizando; ser a pessoa mais rude e grossa em casa e seguir tendo fé e fazendo milagres.

Deus é amor!” (1 João 4:8). Os dons, segundo a Bíblia, são irrevogáveis (Romanos 11:29). Quando Deus dá um dom para alguém, esta pessoa continuará usando-o para o resto da vida; ele só não usará se não quiser. Salomão recebeu o dom de sabedoria e o usou por toda a sua vida, mesmo tendo se apartado de Deus devido ao caos produzido pela imensa quantidade de mulheres que tomou para si. Alguns têm o dom da contribuição: ajudam muito aos necessitados, dão tudo o que têm, mas são duros, carnais e até incrédulos.

Uma coisa é manifestarmos os dons que Deus nos deu, outra coisa é manifestarmos o Deus que nos deu os dons. Uma coisa é pegar o que Deus nos deu e exibir para todo mundo ver; outra coisa é mostrar às pessoas o Deus que nos deu tudo o que temos.

A palavra “glória” está sempre relacionada à visão; ela se manifesta pela vista. Glorificar é “tornar visível”, é fazer com que as pessoas vejam (João 11:4,40,43; Atos 7:55; 2 Coríntios 4:4-6). Qualquer pessoa pode e deve manifestar os dons de Deus, mas não pode negligenciar o Dono desses dons, a presença de Deus em sua vida e é isso que Paulo ensina em 1 Coríntios 13. O Amor a que ele se refere é a presença de Deus no homem, pois “Deus é amor”.

“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5:5).

Conforme esse texto, a presença de Deus no homem é a garantia da presença do Amor no seu coração. Quanto mais vazios de Deus estamos, mais vazios do amor estamos. A solução de Deus para o mundo não foi apenas dar os Seus dons às pessoas para capacitá-las com virtude. Se os dons fossem a garantia de bênção e sucesso, a igreja de Corinto não estaria vivendo o caos que estava. Inclusive, um dos motivos de brigas entre eles era por causa do uso dos dons – uns se achavam superiores por terem os dons, outros se achavam insignificantes por não tê-los.

Em 1 Coríntios 12:31, Paulo diz: “E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente.” “Caminho” é “meio”. A solução do problema do homem não são os dons ou talentos. Pelo contrário, estes podem até despertar ciúmes, invejas e divisões. A solução que Deus deu foi o Amor. É a presença dEle, de verdade, em nós. Como Paulo descreve o amor?

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:4-7).

O amor é paciente. O Deus que mora em nós é paciente e Sua paciência é infinita. Se perdemos a paciência podemos estar perdendo o amor.

O amor é benigno. Deus é perdoador, Ele perdoa sempre e a todos. A presença do amor em nós é garantia de perdão.

O amor não arde em ciúmes. O amor não briga pelo que tem, não tem medo de repartir ou perder o que tem. Nós não temos nada que não possamos, de fato, renunciar. Se não podemos abrir mão de algo, somos escravos desse algo, ele nos possui. A verdadeira liberdade é quando renunciamos a tudo que temos para seguir a Jesus. O único bem que não podemos renunciar é o bem maior, a presença de Deus em nós.

O Doador é infinitamente superior ao dom. A verdadeira sabedoria escolhe o Doador em detrimento aos dons.

Deus SE DOOU a nós por intermédio de Cristo. Não há DOM MAIOR QUE ESTE.

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6 ARC).

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16 RA).

No amor do Senhor Jesus,

Sérgio Franco
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