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A Igreja não é cúmplice

Quando soube da notícia sobre a menina de 16 anos que foi violentada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, fiquei tão enojado e triste que, por um momento, não tive condições de me manifestar neste blog e nem nas redes sociais. A perversidade e a monstruosidade daqueles homens demonstram a que ponto pode chegar a maldade humana. O que ocorreu é algo inominável, não existe em nosso vocabulário um adjetivo que demonstre suficientemente o tamanho do mal cometido.

Porém, ao ver os comentários de alguns cristão sobre a tragédia ocorrida, creio que se fazem necessários alguns ajustes em certas falas precipitadas. Uma dessas falas diz respeito a uma suposta cumplicidade ou conivência dos cristãos brasileiros com a cultura do estupro.

Certo pastor, em um comentário nas redes sociais, escreveu o seguinte, se referindo à Igreja:

“Quão hipócritas somos! Não merecemos ser chamados de cristãos! Somos cúmplices deste estupro! Conquanto nos calamos, consentindo vergonhosamente com o crime”.

Uma determinada igreja, em nota também publicou:

“Quando as igrejas silenciam diante de expressões categóricas de machismo e de inferiorização da mulher, elas se tornam cúmplices da escalada da violência e facilitam a criação de uma plataforma social em cima da qual pessoas são agredidas, envergonhadas e segregadas”.

Por fim, certo blogueiro cristão escreveu um texto intitulado: “A cultura do estupro e a conivência evangélica”, onde fala sobre a suposta omissão da Igreja diante de certa atrocidades.

Diante do mal, parece que algumas pessoas se colocam ilegitimamente na condição de profetas, e querem atribuir à Igreja erros que não são dela. Fazem isso ilegitimamente, pois falam em nome de Deus o que não ouviram Dele.

A verdade é que a Igreja de Jesus não é cúmplice desse mal. A Igreja de Jesus (que está dentro e fora das igrejas evangélicas) não é conivente com essa atrocidade.

A Igreja tem seus erros, imaturidades e infantilidades, mas ainda assim é através dela que inúmeras pessoas tem recebido e atendido o chamado de Jesus: “Arrependei-vos porque é chegado o Reino de Deus”. Foi através dessa Igreja, ainda que débil e carnal, que muitas pessoas tiveram suas vidas transformadas para se tornarem pessoas melhores.

Foi com essa Igreja que aprendi que deveria amar a todos, até os meus inimigos. Foi com essa Igreja que aprendi a não ofender, a não ser violento ou agressivo.

Foi com essa Igreja que aprendi que devo honrar à mulher e protegê-la como vaso mais frágil.

A Igreja tem trabalhado para tirar homens do álcool e das drogas, portas que, uma vez abertas, muitas vezes alimentam a violência contra mulher.

Há hipocrisia na Igreja. Jesus já falou que sempre vai haver joio e trigo juntos, até que Ele retorne. Porém, o fato de existir gente hipócrita na Igreja não me autoriza acusar meus irmãos e irmãs de pecados que não são os deles. Não estou autorizado por Deus a atribuir à Igreja qualquer cumplicidade com o estupro daquela menina no Rio de Janeiro. Se eu fizesse isso, estaria pecando contra milhares de pessoas sérias, espalhadas por este país, que se esforçam para anunciar Jesus, a salvação dos homens.

Sei que a Igreja tem seus erros, mas preciso reconhecer suas virtudes. Não me envergonho dos meus irmãos, pois Jesus não se envergonha de mim.

A Igreja precisa crescer, mas ainda assim é verdadeira a declaração de Paulo: a Igreja é coluna e firmeza da verdade (II Timóteo 3:15).

Então, quem é cúmplice da atrocidade cometida por aqueles 30 homens? Cúmplice disso são todos aqueles que alimentam, reforçam e sustentam a cultura da impunidade que reina neste país. É a impunidade que alimenta todo esse mal.

Por isso, encerro esta reflexão com a fala do autor de Eclesiastes:

“Quando os crimes não são castigados logo, o coração do homem se enche de planos para fazer o mal” (Eclesiastes 8:11 NVI).

“Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal” (Eclesiastes 8:11 RA).