Reflexões

O vazio do desânimo

Todo mundo passa por um momento de desânimo na vida. Alguns mais do que outros por conta do temperamento e das tendências. Geralmente desanimamos quando perdemos a esperança de que algo aconteça ou quando estamos diante de um desafio muito grande em que não nos vemos em condições de superar. Ou quando algo se repete tantas vezes a ponto de exclamarmos: “De novo isso?!”.

A repetição de um problema, o pedido de perdão de alguém que já quase bateu o recorde das 490 vezes no dia, nos abatem a ponto de desanimarmos com alguém ou até mesmo com a vida. O desânimo está relacionado com a frustração, com a expectativa não correspondida, com a vontade própria não realizada. Tem a ver com a nossa busca pela satisfação e pela alegria.

“A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida” (Provérbios 13:12).

Nós somos estimulados a criarmos expectativas, sonhos, planos em todo tempo. A busca pela realização passa necessariamente por esses estímulos, e nessa jornada muitos caem à margem do caminho por tentarem suportar tudo através do esforço próprio, através da mera meritocracia. Muitos de nós não aguentam e caem no poço do pessimismo e amargura. Ao mesmo tempo que somos a geração dos estímulos, somos a geração do desespero e da ansiedade.

Tenho percebido isso na criação do meu filho. Temos observado o quanto a nossa tendência é enchermos os nossos filhos de estímulos, com medo que eles fiquem entediados e no fim nos incomodem. Somos egoístas, não queremos ter o trabalho de criar ou fortalecer seus limites, ficamos com “peninha” e então somos tentados a enchê-los de pura distração. Será que eles não podem ficar paradinhos, debaixo de uma palavra de ordem por alguns minutos ou hora? Necessariamente temos que distraí-los o tempo todo? Esse equivoco tem colaborado para vivenciarmos uma geração cada vez mais viciada em estímulo para ficar tudo sempre “animado”. Nosso ânimo facilmente oscila com as circunstâncias e nosso louvor em todas elas pode ficar comprometido.

Não raras vezes vejo pessoas no meio da igreja desanimadas e precisando constantemente de consolo. Não podemos esquecer que sempre existirá esse tipo de pessoa no meio da igreja e devemos estar dispostos a tirá-las dessa condição.

Exortamo- vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos” (1 Tessalonicenses 5:14).

Porém qual é o motivo que faz com que alguns de nós sejamos vencidos pelo desânimo? Percebo que muitos tratam o desânimo como algo normal, aceitável. E talvez esse seja o início de uma vida infrutífera e marcada por esse mal. Além dessa necessidade contemporânea de estímulo pra estarmos sempre animados, pesa também a natureza daquilo que nos alimenta todos os dias. Ou somos alimentados pela Palavra, Sua instrução e consolo ou somos alimentados pela fonte desses estímulos que já mencionei antes.

Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados” (2 Coríntios 4:8).

Somos fruto de uma geração fraca.

Na realidade, não temos noção do aperto e profundidade de tribulação que afligia Paulo. Ele passava por naufrágios, açoites, perseguições odiosas, pressões em que qualquer um de nós talvez já teria desanimado logo no início. Por isso não dá pra viver moldado ao padrão mental desse mundo e seguir Jesus. Seu pedido é claro: Venha morrer comigo! Esteja disposto a encarar o que for!

Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mateus 10:28).

O desânimo pode ser fruto de uma vida na carne.

Uma vida na carne é ser guiado por ela e por suas metas e desejos. É quando ainda estamos no centro e decidimos as coisas guiados pela própria vontade e não experimentamos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Essa caminhada ainda fundada na carne, nos cansa, enfraquece e o resultado é o desânimo na fé.

No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33).

Um bom ânimo, longo e duradouro é parte do fruto do Espírito.

“Mas o fruto do Espírito é:amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade” (Gálatas 5:22).

Ser longânimo significa ter um ânimo longo, inabalável. Significa ser alguém que não desanima facilmente do caminho e das pessoas. Se cremos que Ele está conosco todos os dias, não temos porque desanimar. Em contrapartida, o homem de ânimo dobre, além de ser inconstante em todos os seus caminhos, não pode receber coisa alguma da parte do Senhor.

Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (II Timóteo 4:14-18).

Muitos de nós já teria desistido depois de tantas decepções e resistências. Mas a convicção da vontade de Deus sustentava Paulo, fazendo dele um homem livre nas emoções e livre para continuar.

Se nos sentimos desanimados sempre, vale a pena rever a nossa vida e nossa caminhada na fé. Precisamos ver se estamos no lugar errado, na posição equivocada, com a prioridade invertida: de pé quando se tem que estar de joelhos, prostrado quando se deve estar de pé, permanecendo. Talvez o motivo do seu desânimo seja o seu orgulho. Talvez você saiba que deve fazer o bem e não quer fazê-lo. Não adianta buscar os estímulos que estão por toda a parte, eles são paliativos, não servem pra te manter longe da tristeza e do desânimo.

Arrependa-se de viver dessa forma e busque a posição ideal que você precisa que é humilhado debaixo da poderosa mão de Deus.

Ideraldo de Assis
Siga
Últimos posts por Ideraldo de Assis (exibir todos)