Reflexões

Unidade, sim! Mas não em torno do mal.

Ontem recebemos pelas redes sociais um comentário que gerou uma oportunidade de refletirmos sobre a unidade da Igreja. O comentário foi feito por um leitor que criticou o texto As incoerências dos “pregadores do amor”. Por um equívoco de interpretação, o leitor pensou que o texto condenava a postura da cantora Ana Paula Valadão em promover um boicote à marca C&A por sua última campanha publicitária.

Quem lê o texto com atenção percebe que isso não é feito em momento algum. Embora mencione que não concordava com o caminho escolhido pela cantora para expor sua indignação, o autor direciona sua mensagem aos que reagiram com ódio e agressividade à postura da Ana Paula, e denuncia à incoerências daqueles que se dizem “tolerantes”. Porém, a simples menção a uma discordância foi tomada pelo leitor como uma reprovação à Ana Paula e uma demonstração de desunião da Igreja.

Em seu comentário, o leitor diz: “o mundo sempre têm vantagem sobre nós, eles sabem o que é ter União”. E prossegue dizendo: “A igreja evangélica tinha que apoiar sem ‘mas’ qualquer crente metralhado pela mídia, mas sabemos que nunca isso acontece”. Embora acredite que o comentário do leitor seja resultado de uma leitura equivocada do texto e também do desconhecimento do trabalho realizado pelo Conexão Eclésia, ao menos seu comentário nos proporciona uma oportunidade para refletirmos sobre a união que devemos ter como cristãos.

Sabemos que Deus nos chamou para a unidade. Esse foi o pedido de Jesus ao Pai: “a fim de que todos sejam um… para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:21). Ou seja, “sermos um”  é indispensável para o nosso testemunho no mundo. A Bíblia nos chama a termos o mesmo parecer (I Coríntios 1:10) e a crescermos rumo à unidade da fé (Efésios 4:13).

Nossa unidade não deve ser dar no campo teórico, mas deve ser expressada com atitudes práticas. Um exemplo dessas atitude está registrada no ensino de Paulo I Coríntios  6:1-8, onde aprendemos que quando algum irmão nos causar prejuízo, devemos até mesmo sofrer o dano ao invés de promover uma ação judicial. Aliás, o só existir demanda entre irmãos é motivo de completa derrota.

Outra atitude prática para construirmos a unidade está na forma como confrontamos os erros de nossos irmãos. Quando em meio à igreja alguém se afasta da Verdade a tal ponto de ser considerado um inimigo da cruz de Cristo, isso deve ser denunciado com profunda tristeza, com pesar, com lágrimas nos olhos. Isso não deve ser feito com prazer ou com humor. Infelizmente, vemos hoje muita gente na internet denunciando erros dos outros sem nenhuma tristeza ou pesar. Fala-se até mesmo com humor, escárnio e zombaria. Essas pessoas não aprenderem a fazer apologética (defesa da fé) com Paulo:

“Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Filipenses 3:18).

Enfim, nosso compromisso é com a unidade da Igreja. Por isso, não nos regozijamos ao encontrar erros nos nossos irmãos e nem naqueles que já se tornaram inimigos da cruz. Acerca desse tema, recomendamos a leitura do texto “Falta amor pela Igreja”.

Porém, precisamos considerar que a unidade sempre se dá em função de algo. Ela não pode ser construída em torno do nada. E a unidade pode até mesmo ser construída em torno do mal. Isso aconteceu com os construtores da torre de Babel. Estiveram unidos no propósito de fazerem célebres seus nomes. E o próprio Deus, vendo essa unidade para o mal, se encarregou de desfazê-la.

“e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro” (Gênesis 11:6,7).

Outro exemplo bíblico de unidade para o mal é a história de Ananias e Safira, um casal unido em torno de um propósito maligno: mentir ao Espírito Santo  (Atos 5:1-11).

Portano, a unidade por si só não é virtuosa. Depende em torno de quê essa unidade é construída. No caso da unidade da Igreja de Jesus, ela deve se dar em função própria pessoa do Senhor e da Sua Palavra. E por isso, não estamos num “vale tudo pela unidade”. Em nome da unidade não se deve “apoiar sem ‘mas’ qualquer crente metralhado pela mídia”. Não devemos nos omitir diante dos erros ou nos calar diante das obras infrutíferas das trevas (Efésios 5:11), que por vezes são encontradas em meio à Igreja. Em nome da unidade devemos agir, mas sempre em amor.

“Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).

Em amor, devemos aprender a confrontar os irmãos em seus erros. E como temos compromisso é com a saúde da Igreja, em algum momento será necessário reprovar publicamente certa atitude de algum irmão, a fim de que o rebanho do Senhor não seja prejudicado, tal como Paulo fez com Pedro (Gálatas 2:11-14). Mas não podemos perder o foco de que, até mesmo quando a repreensão precisa ser pública, ainda assim permanece o objetivo resgatar o irmão que incorreu em erro.

A verdade é que nossa unidade como Igreja ainda é extremamente deficiente. Esse é um pecado do qual precisamos nos arrepender. Estamos fragmentados em inúmeros grupos e denominações. Nossa unidade no Espírito é real e verdadeira, mais precisamos crescer na unidade da fé. Também precisamos alcançar uma unidade visível aos homens, a fim de que o mundo creia. Porém, para atendermos ao propósito de Deus, nossa unidade deve ser movida pelo amor e construída em torno da Verdade, que é a pessoa de Jesus.