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As incoerências dos “pregadores do amor”

Tem coisa mais incoerente do que você pagar por um serviço de uma prestadora e esta, quando quer angariar mais clientes, dá mais vantagens para os novos do que para você que é um cliente antigo e fidelizado? O Jornal “tal” oferece um brinde para os novos clientes, um tablet “novinho” para todo aquele que fizer uma assinatura neste mês, mas o cara que já é assinante há anos não tem direito a esta promoção. A operadora de telefonia que você faz parte tem umas vantagens espetaculares para quem trouxer o seu número de outra operadora, mas você não tem acesso a tais vantagens, a não ser que migre para a companhia rival e depois de um tempo retorne.

Enquanto você lê este texto, com certeza já se lembrou de outras loucuras que rolam por aí. Algumas incoerências chegam a ser cômicas, enquanto outras são trágicas, como o caso das mídias televisivas por exemplo, enquanto proclamam libertinagem e sexo de qualquer tipo e qualquer hora também se dedicam a informar os perigos de uma relação sexual sem preservativos. Elas denunciam alguns abusos e o aumento indiscriminado de meninas que ficam grávidas sem sequer saber quem são os pais dos bebês. Mas fazem tudo isso, sem deixar de promover o consumo do sexo em doses fortes de erotismo e de vulgarização genital. Há toda uma apologia do hedonismo focalizado na sexualidade, tudo muito bem estudado, programado e oferecido com persistente vigor, mas ao mesmo tempo gastam dinheiro com matérias jornalísticas para alertar os jovens que toda essa vida mundana acaba tendo um preço alto. Esta incoerência é semelhante a uma fábrica que polui todo o meio ambiente,  que desmata à vontade a vegetação nativa a sua volta e no final do ano ganha algumas etiquetas de boa conduta por terem colaborado com a população.

No entanto, as incoerências não estão presentes apenas nas campanhas sem sentido das empresas do século XXI. Elas estão por todo o lado e tenho a impressão que até aumentam em número e em loucuras, pois estão sendo alavancadas por um espírito de divisão e discórdia que se instaurou em meio a nossa sociedade. Um sociólogo espanhol chamou esse espírito de estilo.  Vicente Verdú, um dos mais aguçados investigadores dos fenômenos contemporâneos, escreveu um livro chamado “O Estilo do Mundo”, com uma das análises mais certeiras sobre nosso tempo, e justifica o uso da palavra estilo e não espírito por que estilo “evoca melhor a sinuosa aparência”  de nossa sociedade hoje. Eu, que não sou sociólogo e nem espanhol, prefiro chamar isso de “capiroto” e creio que ele pode ser melhor percebido nas mídias sociais, especialmente no Facebook. É lá que as pessoas, quando não curtem algo, atacam com ofensas a mensagem e o mensageiro.

Por acaso, ontem ou li um post da Ana Paula Valadão que indignada com a crescente libertinagem, propôs um boicote a uma loja de roupas por causa da forçação de barra em uma de suas campanhas publicitárias, e por conta do que ela escreveu veio uma enxurrada de respostas agressivas. Mesmo não concordando com o caminho que a minha irmã tomou para expor sua indignação, enquanto lia as respostas, que em sua maioria, eram ofensivas, fui dando conta de que quando o tema é ser do contra, algumas pessoas só querem ser do contra, não importa a lógica, o pensamento, a coerência, a normalidade. Também tenho a impressão de que este número de inconformados mudam de opinião como as ondas do mar. O escritor Walter Truett Anderson dá quatro termos que os pós modernistas usam para falar do eu ou das múltiplas identidades. O primeiro é “multifrenia.” Isso se refere às muitas vozes diferentes em nossa cultura que nos dizem quem somos e o que somos. O pós modernismo diz NÃO há uma personalidade íntegra, mas multiplicidade de personalidades. Em definitivo, não podemos saber muito bem quem somos. O segundo termo é  proteano (vem do deus Proteo, um deus marinho conhecido por sua capacidade de metamorfose). O eu proteano é capaz de mudar constantemente para adequar-se às circunstancias atuais. “Pode incluir mudar de opiniões políticas e de comportamento sexual, mudar de idéias e da forma de expressá-las, mudar formas de organizar a própria vida”.

Esta onda de gente do contra, só para piorar, quando não concorda com algo que rola no Facebook, parece que um “negócio” os faz crer que a saída é partir para a agressão. Deixa eu ser mais claro. O tema que citei da Ana Paula, foi avaliado pelos os que a atacaram como falta  de amor proveniente de uma atitude preconceituosa e intolerante. Mas em geral, a galera que discursa a favor do amor, normalmente também defende o aborto.  Ou seja, eles pregam amor ao próximo ou “amor próprio”? Quem é contra o preconceito, ao atacar alguém preconceituoso, demonstra claramente  que possui um grande preconceito de quem tem preconceito. O exemplo citado deixa isso claro, pois os xingamentos contra Ana, toda aquela raiva demonstrada pela galera era por que a cantora gospel, segundo o que acreditavam, agiu sem nenhum amor ao demonstrar ser intolerante e preconceituosa, mas eu não consegui deixar de ver nos textos e xingamentos a intolerância dos tolerantes, a falta de amor e o grande preconceito da maioria que era contra o preconceito e a falta de amor. Fazer discurso de ódio a favor do amor não cabe. Defender a inclusão excluindo os contrários é loucura. Sei que alguém disse que a melhor arma para se defender é o ataque, mas quando usamos as mesmas armas que negamos serem lícitas e justas, ou seja, quando somos preconceituosos e intolerantes para acusar e atacar aqueles que julgamos preconceituosos e intolerantes, é uma baita incoerência. Eu confesso que não vim aqui para defender a Ana Paula, mas para denunciar uma tendência. Aumenta o número de pessoas que  são do contra, mesmo sem nenhuma coerência ou sentido.  As incoerências estão reinando no mundo.

Quer defender o amor? Não destile o ódio. Deseja inclusão? Não exclua os contrários. Não seja preconceituoso contra os que são preconceituosos. Vai pregar contra a intolerância? Tolere. Não dê espaço para incoerências na sua vida. Quer falar do Deus da Bíblia? Conheça-O. E por falar nas Escrituras, quero terminar aqui, parafraseando a primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, capítulo 5, vs 15 – “Cuidem para que, quando estiverem nervosos, vocês não ofendam os outros. Procurem o melhor em cada um e façam sempre o melhor que puderem para despertar o que há de melhor no irmão.”

Um beijo no coração,

Sérgio Franco
Autor do livro Tudo se Resume no Amor de Deus, que pode ser encontrado na loja Servo Livre e também  no formato e-book na Amazon.

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