Reflexões

Namoro não é por carência!

Recebi um pedido para escrever aqui no Conexão Eclésia sobre o propósito do namoro cristão. É um tema difícil, pois “namoro” é uma expressão que na cabeça de cada pessoa pode ter um significado distinto. No meio cristão, o relacionamento entre solteiros pode tomar diferentes nomenclaturas: namoro, côrte, amizade comprometida, etc. Contudo, aqui neste texto vamos usar o termo “namoro” para nos referir genericamente ao relacionamento sentimental entre solteiros.

Para tentar atender ao pedido que me foi feito, uma história da vida da minha esposa pode servir como um pano de fundo. Ela conta que, em certo momento de sua vida, fazia parte de um círculo de amigos em que a maioria estava namorando ou já estava por casar, e ela era uma das poucas que ainda estava “sozinha”. Então, movida pela carência afetiva, começou a se interessar por um dos rapazes que fazia parte do círculo e que também estava sozinho. Esse interesse permaneceu por algum tempo, e era movido pela simples carência de ter alguém, de ter um namorado. Mas, tudo isso terminou abruptamente quando ela pensou que, apesar de apenas querer um namorado, se ela começasse a namorar com aquele rapaz, mesmo movida apenas pela carência, esse namoro poderia dar em um casamento. E isso ela não queria de jeito nenhum. O interesse dela era ter aquele rapaz como namorado, não como marido. Ela queria apenas um passatempo. Porém, quando percebeu que sua carência poderia levá-la por um caminho que ela realmente não queria, aquele interesse desapareceu.

A reflexão que ela fez foi muito importante, pois muitas moças, em função da carência, entram por caminhos que nunca gostariam de ter passado. Algumas se sujeitam a relacionamentos danosos, destruidores, tudo para não estar sozinha.

Podemos ter certeza de uma coisa: um discípulo de Jesus não deveria entrar num relacionamento simplesmente para suprir uma carência momentânea de “ter alguém”. Olhando para o que Bíblia aponta sobre a vida de um discípulo, um  relacionamento com o mero propósito de suprir carências não é algo compatível com a vida cristã.

O propósito do namoro para cristãos

Um discípulo de Jesus é alguém que está comprometido a fazer tudo para a glória de Deus. É alguém que nega a si mesmo, toma a cruz e segue Jesus. Está comprometido com a palavra que diz: “seja vosso sim, sim, e o vosso não, não”.

Muitas pessoas, ao entrarem num namoro para satisfazer carências afetivas, se deixam envolver sentimentalmente e fazem declarações de amor que não estão dispostas a viver. Quantos rapazes dizem para uma moça: “você é a mulher da minha vida”, e depois de um tempo ela deixa de ser. Quantos casais de namorados fazem juras de amor eterno para depois tudo se acabar. Isso não é compatível com a vida de um discípulo de Jesus.

Entre cristãos, não deveria haver espaço para relacionamentos superficiais e irresponsáveis.  Um namoro cristão não pode ser um mero passatempo, um lazer ou uma diversão. Afinal, o namoro envolve sentimentos e expectativas da outra pessoa. Alguns podem começar um namoro apenas como passatempo, porém ao longo do tempo, cada parte pode desenvolver uma expectativa diferente sobre aquele relacionamento. Enquanto uma parte pode esperar algo sério, a outra ainda está pensando apenas no passatempo.

Antes de fazer juras de amor, um discípulo deveria considerar seriamente sobre suas próprias palavras:

“Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12:36).

Além disso, uma vez que o discípulo de Jesus é movido por amor, e o amor não busca os próprios interesses, ele não deveria se precipitar em um relacionamento (namoro, côrte, etc..), sem considerar as expectativas que pode promover na outra parte, e o quanto pode ferir a pessoa pelas frustração. “Ninguém tem o direito de fazer afirmações inconsequentes, que acabam fazendo mal à outra pessoa” 1.

Enfim, por essas e outras razões, creio que um discípulo solteiro só deveria entrar em um relacionamento se tiver um propósito muito maior que a satisfação de suas carências. O propósito deveria contemplar uma aliança, o casamento, a constituição de uma família para a glória de Deus. Alguém pode achar um absurdo só “namorar” se tiver a intenção de casar. Mas, isso não parece tão estranho quando se observa alguns cuidados prévios, anteriores ao relacionamento. E um desses cuidados diz respeito à amizade. Um rapaz e uma moça deveriam ser muito amigos antes de se comprometerem.

Se o namoro cristão deve alcançar um propósito diferente, o seu desenvolvimento também deve ser diferente. Para explicar isso, reproduzo abaixo um trecho do “Módulo I para novos discípulos”:

Tanto no mundo como no Reino de Deus, o relacionamento começa com o conhecimento. Porém o desenvolvimento é em direção contrária: no mundo o namoro começa a partir do conhecimento físico (beijos, abraços, carícias etc.), mas no Reino de Deus o conhecimento deve iniciar no espírito (coração), seguindo para a alma (intelecto) e, após o pacto do casamento, deve haver um conhecimento físico (sexo – corpo).

Ninguém deve casar-se imediatamente ao conhecer uma pessoa, porém deve haver um tempo de conhecimento. Tudo deve começar com a amizade. E numa amizade pode surgir um sentimento. Quando estiver seguro da vontade de Deus, você pode passar para o que chamamos de amizade comprometida, após preencher alguns princípios bíblicos. Passe tempo em oração. Ouça conselhos de irmãos maduros no Corpo.

Só é possível compreender que o namoro cristão tem um propósito diferente do namoro no mundo, quando entendemos que também tem um desenvolvimento diferente, e parte de um fundamento distinto, sempre baseado na vontade Deus. O namoro cristão deve sempre começar em Deus, e se desenvolver em santidade.

Se você quiser saber mais sobre esse tema, recomendo a leitura do livro “Muro ou Porta?”, onde Sérgio Franco faz uma abordagem sobre aspectos necessários ao caráter de um discípulo antes de entrar em um relacionamento. Conheça esse livro: http://www.loja.servolivre.com/muro-ou-porta

Que o Senhor sempre conduza os nossos passos em Sua vontade, que é boa, perfeita e agradável.

No amor do Senhor Jesus,
Anderson Paz

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1 Módulo 1 para novos discípulos