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4 razões para não guardar o sábado

Recentemente um amigo me questionou sobre o mandamento de guardar o sábado. Sua motivação não era ter esclarecimento pessoal, pois já tinha clara a sua posição quanto ao tema. Porém, queria ter mais subsídios para poder conversar com outra pessoa. Já que me comprometi a escrever algo para ele acerca desse assunto, porque não compartilhar aqui também no Conexão Eclésia e assim poder ajudar nossos leitores.

Neste post, levanto quatro razões encontradas no Novo Testamento para um cristão não guardar o sábado. Menciono apenas quatro, pois acredito que já são suficientes para esclarecer o tema. Na verdade, são quatro razões para guardarmos todos os dias, no sentido de vivê-los para Deus.

Antes de abordar as razões propriamente ditas, precisamos considerar um pressuposto fundamental: o Antigo Testamento deve ser compreendido à luz de Jesus, e não o contrário. É Jesus quem nos dá as diretrizes para compreendermos as Escrituras. Ele é o Verbo. Ele é a imagem do Deus invisível, Sua perfeita revelação. (Quer saber mais sobre a divindade de Jesus? Confira aqui)

“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1:1-3a).

Por isso, no Monte da Transfiguração, ao aparecerem Moisés e Elias ao lado de Jesus, o Pai declarou acerca de Seu Filho:

“Este é o meu filho amado; a ele ouvi” (Marcos 9:7).

Na vida de um cristão é Jesus quem tem que ser ouvido. Toda a Escritura é inspirada por Deus, mas é a partir de Jesus que a compreendemos.

E, para entendermos a questão do sábado, precisamos começar por Jesus, pois Ele mesmo se declarou Senhor do Sábado. Jesus esclareceu que o sábado não era um fim em si mesmo. O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Marcos 2:27,28). Sendo Jesus o Senhor do Sábado, é a sua posição que deve ser considerada.

Não há registro no Novo Testamento de Jesus ensinando claramente aos seus discípulos se estes deveriam observar o sábado como dia de descanso. Porém, ainda que não haja esse registro específico, não ficamos no escuro quanto ao tema, pois Jesus designou seus apóstolos para darem testemunho acerca dEle, pois o acompanharam desde o princípio (João 15:26,17).  Nessa missão, contariam com o Espírito Santo, que fariam com que eles lembrassem de tudo o que Jesus ensinou e os guiaria a toda verdade (Clique aqui e veja mais sobre o tema).

“quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir” (João 16:13).

Os apóstolos eram as testemunhas enviadas pelo próprio Jesus, seus representantes autorizados. Por isso, quando alguns judaizantes passaram por Antioquia ensinando que os gentios convertidos deveriam passar pela circuncisão, a igreja naquela cidade enviou representantes à Jerusalém para ouvirem o que os apóstolos tinham a dizer sobre o tema.

Portanto, uma vez que Jesus se declarou Senhor do Sábado,  é importante entender como seus primeiros discípulos e os apóstolos entenderam a questão do sábado, e como enxergavam a prática desse mandamento. E quando vemos o ensino dos apóstolos no Novo Testamente, compreendemos claramente que para eles o sábado era apenas um símbolo, uma sombra de algo superior que foi concretizado pelo Evangelho. Portanto, não existiriam mais razões para um cristão ser obrigado a guardar o sábado.

Há pelo menos 4 razões no Novo Testamento pela qual vemos que os cristão não precisam guardar o sábado.

1- Em Atos 15, os apóstolos nem mesmo mencionam a necessidade de guardar o sábado.

O capítulo 15 de Atos registra o encontro dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para compreenderem qual era o mandamento do Senhor para os gentios acerca da circuncisão. Direcionados pelo Espírito Santo, aqueles homens compreenderam que não deveriam impor a circuncisão aos gentios, mas, no que tange às tensões entre judeus e gentios, apenas recomendaram aos mesmos que se abstivessem das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. E o sábado nem sequer é mencionado nessa lista.

Se guardar o sábado era tão importante a ponto de ser um mandamento para todos os cristãos, por que ele não é mencionado em Atos 15? Por que  não há nenhum mandamento no Novo Testamento que ordene a observação do sábado?

Não se pode supor que o sábado não foi mencionado por sua observância ser óbvia, um ponto pacífico e unânime entre judeus e gentios. Veremos que entre os cristãos em Roma haviam diferenças sobre como os dias deveriam ser observados. O sábado era um mandamento importante para os judeus e consistia num ponto de tensão com os gentios. Se fosse compreendido pelos apóstolos como um mandamento para os gentios, eles se manifestariam acerta do tema.  Mas em nenhum momento no Novo Testamento os apóstolos ensinam aos gentios que estevem deveriam guardar o sábado.

2- Aos Romanos, Paulo ensina que fazer diferença entre dias está no campo da consciência individual, e não deve ser encarado como mandamento.

Na carta aos Romanos, no capítulo 14, Paulo fala da tolerância para com os fracos na fé e sobre divergências de opiniões entre irmãos acerca de assuntos de menor importância. São questões que o apóstolo não tratava com o peso de mandamento. E nesse ponto, Paulo coloca o “fazer diferença entre dia e dia” como um tema de consciência, e sobre o qual não havia mandamento do Senhor Jesus para os cristãos.

Paulo diz:

“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus” (Romanos 14:5,6)

O apóstolo coloca a forma como tratamos os dias no campo das coisas que fazem parte da esfera pessoal, e não deve ser imposta aos outros. Inclusive, Paulo usa uma linguagem totalmente diferente da que ele usa quando se trata de mandamentos, onde o tom é imperativo. Amar o próximo é mandamento. Servir é mandamento. Mas “fazer diferença entre dias” é questão de opinião, e não mandamento.

3- Paulo repreende os Gálatas por terem voltado a rudimentos fracos e pobres, como o “guardar dias, meses, tempos e anos”.

A igreja na Galácia nasceu entre gentios, mas estava sofrendo a ação de agitadores judaizantes que ensinavam que os gentios deveriam se circuncidar e guardar a lei. Por isso, Paulo é enfático com essa igreja, e repreende os gálatas por voltarem a rudimentos fracos. Grande parte da carta de Paulo aos Gálatas está tratando da relação entre Lei e Graça. O apóstolo ensina que a Lei serviu de aio para nos conduzir a Cristo, e uma vez que a fé veio, já não estamos mais debaixo de aio (Gálatas 2:24,25).

Os gálatas estavam retrocedendo e se colocando debaixo da lei. Por isso Paulo fala:

“De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gálatas 5:4).
“Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade?” (Gálatas 5:7).

A circuncisão não era a única obra da lei a que os gálatas estavam retornando. Eles também guardando dias, meses, tempos e anos. Por isso Paulo lhes dirigiu a seguinte repreensão:

“mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco” (Gálatas 4:9-11).

Para o apóstolo, observar esses datas era um retrocesso, pois os gálatas já haviam sido libertos disso.

4 – Aos Colossenses, Paulo ensina que ninguém deve ser julgado por causa de sábado, pois isso era apenas uma sombra.

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16,17).

O sábado não deve ser critério de julgamento sobre alguém que já foi liberto em Cristo. Ninguém deve ser condenado por não guardar o sábado ou absolvido por guardá-lo. E a razão que Paulo apresenta para ninguém ser julgado pelo sábado é o fato de que Jesus cancelou o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças. Jesus removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz (Colossenses 2:14,15). Por isso, não devemos ser julgados por causa de sábados.

Mas, o sábado era sombra de quê? Ora, sábado é repouso, é descanso, e quem crê em Jesus entrou no descanso (Hebreus 4:3). Quem está em Cristo está no descanso, pois Jesus cumpriu a lei. Ele completou Sua obra. Ele declarou: “Está consumado!”, e nos proporcionou o descanso que decorre da fé e da graça. Jesus chamou os cansados e sobrecarregados para serem aliviados. Por isso, o sábado era uma sombra que apontava para essa realidade. Jesus é o nosso verdadeiro descanso sabático, e todos dia é dia de honrá-lo e servi-lo.

Quando um cristão decide não guardar o sábado, ele não está se eximindo de um dever ou de uma responsabilidade. Pelo contrário, um cristão deveria consagrar todos os seus dias a Deus, vivendo para glória dEle. Sendo assim, o sábado, o domingo e qualquer outro dia são para o Senhor, pois:

se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Romanos 14:8).

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