Reflexões

Retiro ou Evangelismo: o que fazer no carnaval?

Estamos nos aproximando do carnaval, momento em que algumas igrejas tradicionalmente usam para realizar seus retiros espirituais.  O retiro é uma forma de aproveitar o feriado para promover comunhão e edificação. Outras igrejas tem usado a data para mobilizações evangelísticas, entendendo que esse é um momento que devemos focar nossas energias e aplicar nossos esforços para resgatar os perdidos.

É a partir dessas duas posições  que se estabelece uma polêmica. Para alguns, a opção da igreja por um retiro é uma postura cômoda, omissa e covarde, pois durante o carnaval a igreja deveria estar presente para cumprir sua missão de pregar o evangelho. Para outros, as mobilizações evangelísticas no meio da folia de carnaval seria uma forma de “ceder à carne”, expondo crentes a riscos desnecessários.

Afinal, qual é a postura correta? O que a igreja deveria fazer durante o carnaval?

Antes de tudo, precisamos considerar uma coisa: cada igreja local é composta por pessoas. Isso é óbvio, mas é a primeira coisa que devemos considerar nesse reflexão, posto que, as necessidades de uma igreja local são em grande parte determinadas pelas necessidades das pessoas que a compõem. E, além disso, as necessidades das pessoas também variam no decurso do tempo.

A segunda coisa a considerar é que a nossa missão é fazer discípulos, que é uma obra que inclui alguns passos. Começa sempre com a pregação do Evangelho, com o anúncio de quem é Jesus. Mas não termina aí. Essa obra prossegue no batismo para incluir uma pessoa na família de Deus. A partir de então segue um processo onde o novo discípulo é ensinado a guardar o que Jesus ensinou, e também é enviado a fazer outros discípulos (Mateus 28:18-20). Portanto, a evangelização é o primeiro e indispensável passo para iniciarmos nossa missão. Sem a evangelização nada vai adiante. Porém, nossa missão não se resume a ela. Há momentos em que estamos evangelizando, e outros em que estamos fortalecendo nossos irmãos (Lucas 22:32) e apascentando as ovelhas do Senhor (João 21:15-17).

Paulo fala que trabalhava para apresentar todo homem perfeito em Cristo.

“…Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo” (Colossenses 1:27,28).

Estabelecidas essas duas considerações, agora podemos responder a pergunta: o que fazer no carnaval?

A resposta é: depende da igreja. Sim, depende de cada Igreja. pois retiros e mobilizações evangelísticas são apenas estratégias, e não podem ser confundidos com a missão em si.

Estratégia é um caminho percorrido para alcançar o alvo, mas não é o alvo em si. Não podemos confundir as coisa. Mobilizações evangelísticas são estratégias para pregação do Evangelho, mas não é a pregação em si. O Evangelho pode ser pregado por outras formas. Aliás, a pregação do evangelho tem que ser um estilo de vida para o cristão. Quando mobilizamos a igreja para evangelizar durante o carnaval, acreditamos que esse é um bom caminho para alcançar o alvo, mas não é o próprio alvo. Até mesmo porque, de nada adiantará colocar a igreja na rua se o Evangelho não for anunciado.

O retiro é um caminho para fortalecer a igreja, edificar e ensinar. É um caminho, e não o alvo. Afinal, de nada adiantará se retirar durante o Carnaval, mas não falar da Palavra.

E,  tanto a evangelização quanto a edificação são passos na obra de fazer discípulos. Então, quem faz uma coisa ou outra está comprometido com essa obra. O que não se pode fazer é sempre valorizar um passo e se esquecer do outro.

A escolha pelo retiro ou pela mobilização evangelística deve ser feita observando o momento e as necessidades da igreja local.

É possível que os irmãos necessitem de edificação, um tema precisa ser compartilhado com toda a igreja, e talvez não haja outra época no ano mais oportuna.

Talvez os discípulos estejam sendo negligentes com a pregação do evangelho no seu cotidiano, e uma mobilização durante o carnaval seria uma forma de incendiar a igreja, para que prossiga pregando ao longo do ano.

Enfim, a solução para essa polêmica é muito simples. Por que então há tanta discussão sobre esse assunto? Infelizmente, grande parte dos debates desse gênero partem do sentimento de “estar com a razão”. Faz “bem”para o nosso ego termos a sensação de que “estamos certos, e os outros errado”. E por isso, muitas vezes alçamos coisas de valor relativo à categoria de absolutas, só para alimentar nosso ego e vaidade.

Que estejamos sensíveis ao Espírito Santo, e nossos corações estejam comprometidos com a unidade do Corpo de Cristo.