Notícias

Acostumados com o sagrado, mas sem temor

Recentemente, o vereador de Curitiba José Carlos Chicarelli (PSDC), que faz parte da frente parlamentar evangélica, apresentou um projeto de lei municipal que, uma vez aprovado, tornaria obrigatório que todas as placas inaugurais da cidade tenham a frase “Deus seja louvado”. Para justificar seu projeto de lei, o parlamentar argumenta que 93% da população curitibana é religiosa, o que demonstra a importância da religião na cultura da cidade. O vereador declara que “Sendo assim, ao gravarmos ‘Deus seja Louvado’ nas obras estaremos exaltando e evidenciando ainda mais o altíssimo, pelo momento em que vivemos e o trabalho que nos é abençoado”. E ainda salienta: “O fato a ser ressaltado é a utilização da expressão ‘Deus seja louvado’, pois temos que louvar Seu nome porque Ele é grande”.

Não pretendo aqui neste post tecer comentários sobre como o referido projeto de lei fere o princípio do Estado Laico ou sobre sua relevância social. Sobre esses pontos, já há quem comente. Gostaria de apenas destacar o argumento usado pelo parlamentar, de que o uso da expressão “Deus seja louvado” seria para honrar a Deus.

Não quero questionar a sinceridade do referido vereador quando ao seu desejo de louvar a Deus. Sobre isso, só o próprio Deus pode ter um parecer. Porém, sou forçado a dizer que o parlamentar precisa ser alertado, pois, à medida que conhecemos as Escrituras, vemos que Deus não gosta de louvor ou de honra que se resuma a atos exteriores, meras formalidades, mas que não parte do coração. Na verdade, como Jesus já disse, citando o profeta Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o coração está longe de mim” (Mateus 15:8).

Deus quer honra que procede do coração. Ele não se agrada de meros atos exteriores. Louvor que não brota do coração, não presta pra Deus. Por isso, a simples inscrição “Deus seja louvado” numa placa ou numa cédula, não quer dizer que Deus verdadeiramente esteja sendo louvado. E, quando a honra não parte do coração, isso pode desagradar a Deus profundamente.

Esse é o pecado que o Senhor, através de Isaías, denuncia ao declarar:

“Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer” (Isaías 1:13,14).

Deus sofre com a hipocrisia, com as homenagens que não fluem de um coração puro. Portanto, o referido vereador necessita enxergar que sua cidade não precisa registrar “Deus seja Louvado” em suas placas pra que Deus verdadeiramente seja exaltado. O máximo que esse ato pode produzir é que as pessoas se acostumem com o que é santo, mas sem o devido temor. É o que já acontece, por exemplo, com as cédulas de Real. O fato de estas trazerem a inscrição “Deus seja Louvado”, não impede que as mesmas sejam roubadas, desviadas dos cofres públicos nos esquemas de corrupção, usadas para subornar, para financiar o crime, o tráfico de drogas, a prostituição etc.

Deus pode ser honrado sim, mas de outra forma. Ele é glorificado quando os discípulos de Jesus realmente vivem de acordo com o Evangelho, refletindo a luz de Cristo, pois Ele nos disse:

“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:14-16).

Corroborando com Jesus, Paulo nos ensina:

“Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Efésios 2:14,15).

Se queremos que Deus seja louvado, precisamos assumir nossa vocação como luz deste mundo. Sejamos luz!