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Você colhe sofrimento?

Uma das notícias vindas do Congresso Nacional neste mês não faz referência à qualquer escândalo de corrupção ou alguma CPI. Surpreendentemente, a notícia que comento aqui diz respeito à uma briga envolvendo um deputado federal e o motorista de um senador em frente à entrada principal do Congresso. A briga chegou a ponto do deputado cair no chão, bater a cabeça e desmaiar, tendo sido levado para o serviço médico da Câmara.

A notícia tomou repercussão maior considerando que o Deputado é cardíaco, havia feito uma cirurgia recentemente, e é um idoso de 67. Já não se espera que um homem nessas condições entre numa briga. Entretanto, há ainda um outro fator a considerar: o deputado é cristão, pastor e dono de uma rádio evangélica. Ora, como um cristão poderia se envolver numa briga dessas?

Logo depois do ocorrido, ouvi o deputado em sua rádio atribuindo a agressão sofrida a uma batalha espiritual, a um ataque demoníaco, posto que a violência não teria razão alguma, e que ele teria sido agredido gratuitamente. Porém, mais tarde as imagens das câmeras de seguranças foram divulgadas, e elas dão a entender que a agressão física partiu do deputado, que levou sua mão em direção ao rosto do motorista. Não dá pra ter certeza se o deputado conseguiu dar um tapa na cara do motorista, mas o motorista com certeza derrubou o deputado.

Se o deputado partiu pra agressão, eu não posso condená-lo ao inferno, pois todos nós estamos sujeitos a ter uma explosão de ira. “Quem pensa que está de pé, cuide pra que não caia” e “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Contudo, o que me chamou a atenção foi como o deputado tratou a questão. Sabemos que devemos tratar o nosso pecado com arrependimento, confissão e restauração. É isso que as Escrituras nos ensinam (Tiago 5:16; I João 1:7-9). Essa, por exemplo, foi a atitude de Zaqueu, quando decidiu doar metade de seus bens aos pobres e devolver em 4 vezes mais tudo o que havia roubado. Essa é a maneira que devemos tratar os nossos pecados.

O que me chamou atenção na fala do referido deputado foi o fato de que ele não assumiu nenhum pecado, mas atribuiu tudo a um ataque demoníaco. Ao ouvir isso, foi inevitável lembrar do exemplo usado por Sérgio Franco, em seu livro “Por que Sofremos?” para traçar uma distinção entre o sofrimento decorrente de uma provação e o sofrimento decorrente das consequências de nossos erros. O autor traça essa distinção assim:

“Deixe-me ilustrar com um exemplo: Imagine alguém lhe contando que foi agredido no ônibus. Exibe vários hematomas comprovando a agressão e pede que você ore por ele. Afinal, diz, ‘o diabo está furioso com ele’. Mais tarde, você descobre que aquele irmão foi agredido ao se assanhar com uma mulher casada no interior de um ônibus, sem dar conta de que o marido dela estava ali. Você chamaria isso de provação ou isso seria a consequência de uma atitude pecaminosa? Esse homem sofreu por ser crente ou porque se comportou como um incrédulo?”[1]

É verdade que passamos por sofrimentos que parecem não ter sentido. Há sofrimentos que são provações na nossa vida. Porém, precisamos admitir que muitas das nossas dores se explicam claramente quando entendemos que “aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a própria carne da carne colherá corrupção, mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna” (Gálatas 6:7,8).

Precisamos avaliar o nosso sofrimento também à luz da nossa semeadura. Afinal, quantas pessoas estão sofrendo retaliações por causa da sua ira? E os que estão em crise financeira por causa de sua irresponsabilidade e ostentação? Quando sofrem rejeição por viverem destilando amargura? Quantas pessoas estão com o casamento destruído por terem negligenciado sua família?  Quantos pais sofrem o abandono na velhice após terem abandonado os seus filhos na infância deles? É claro que podemos sofrer essas coisas sem que tenhamos semeado pra isso. Porém, se identificamos que no nosso sofrimento estamos colhendo o que plantamos de errado, precisamos enxergar isso como a oportunidade para nos arrependermos e nos tornamos pessoas mais parecidas com Jesus.

Por fim, quero compartilhar aqui com você uma declaração de Pedro, e que você possa avaliar o seu sofrimento à luz dessa verdade:

“Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso ou como quem se intromete em negócios alheios.Contudo, se sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome” (I Pedro 4:14-16).

Em Cristo,

Anderson Paz
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[1] – FRANCO, Sérgio. Por que Sofremos?, Atos Gospel, 3ª Ed, 2005, p. 9.