Reflexões

O Natal, o paganismo e uma oportunidade

Nasci, cresci e me converti em uma congregação que, como qualquer outra denominação tradicional, celebrava o Natal no dia 25 de dezembro. Muito cedo eu aprendi que o dia 25 não era a real data do nascimento de Jesus, e que a origem das festividades nessa data era pagã. Mas ainda assim, junto com a congregação que eu fazia parte, celebrava o Natal com consciência de que eu estava louvando a Jesus pela sua encarnação.

Contudo, no ano de 2003, decidi que, devido à origem pagã das festas em 25 de dezembro, eu não deveria comemorar o Natal. E, por uma questão de coerência, eu deveria viver esse dia como se fosse um dia comum, como qualquer outro. Se “o Natal era do diabo”, eu deveria passar o dia 25 sem ter nada de especial. Em função disso, minha família foi passar o Natal com a igreja, e eu, por coerência com o que em cria, fiquei em casa sozinho. Esse foi o meu 25 de dezembro de 2003.

Passado 1 ano, em função de uma viagem que eu estava fazendo, as circunstâncias me forçaram a passar o dia 25 de dezembro com uma família que celebrava o Natal com todos os símbolos de origem no paganismo que eu tanto abominava. E eu tive que tolerar aquilo tudo.

Depois dessa experiência, percebi o Espírito Santo me conduzindo a seguinte reflexão: Durante os anos que eu celebrei o Natal, a quem eu dirigia o meu louvor e adoração? Hoje compreendo que a adoração deve marcar todos os dias da minha vida, mas fui lembrado que, durante anos, no Natal a minha adoração era sinceramente dirigida a Jesus.

Então, a segunda reflexão foi esta: Do que você conhece de Jesus, Ele rejeitou a sua adoração sincera, a expressão de gratidão e louvor, tão somente por ter sido realizada no dia 25 de dezembro? Por acaso, a adoração que os cristãos oferecem a Jesus na referida data seria inconscientemente desviada para alguma entidade pagã? Seguramente não. Todo o louvor que ofereci a Jesus nos dias 25/12 foram recebidos por Ele, pois partiram de um coração sincero. Por isso, eu não poderia agora condenar aqueles que festejam o nascimento de Jesus. Condená-los seria uma postura farisaica, expressão de uma religiosidade desequilibrada.

Depois dessas reflexões, passei a enxergar o Natal como uma grande oportunidade que pode ser aproveitada pela Igreja para testemunhar. Se o mesmo esforço que alguns têm empregado na demonização do Natal fosse aproveitado para testemunhar de Cristo, creio que contribuiríamos muito mais para o Reino de Deus. Não quero, de forma alguma, dizer que o Natal deve ser considerado um momento especial de adoração ou de celebração, posto que nós devemos adorar a Deus em todo tempo. A adoração deve ser o nosso estilo de vida. Mas realmente penso que podemos aproveitar o Natal para dar um testemunho ao mundo acerca de Cristo.

É verdade que não se sabe em que dia Jesus nasceu, e tudo indica que ele não nasceu em dezembro. Além disso, também é verdade que Jesus em momento algum nos ordenou celebrar o seu nascimento, mas sim sua morte (I Co. 11:26).  Mas, por que não usar a data de 25/12, tal como Paulo usou o altar ao Deus desconhecido em Atenas para anunciar Jesus (At. 17:15-34)? Inspirados na atitude de Paulo, poderíamos aproveitar o Natal para dizer ao mundo: “Esse, de quem comemorais o aniversário sem o conhecer, é precisamente aquele que vos anunciamos”.

Essa foi a mesma atitude de Paulo para evangelizar os judeus. Mesmo estando livre da lei, viveu como se estivesse sob o regime da lei a fim de ganhar os judeus:

“Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (I Co. 9:20, 21).

Ora, se o apóstolo vivia como se estivesse sob a lei para testemunhar de Cristo, por que nós, que estamos livres de atribuir qualquer significado especial ao dia 25/12, não podemos aproveitar a ocasião criada por essa data para anunciarmos Jesus?

Gostaria de compartilhar aqui algumas considerações acerca desse tema que tenho feito desde o ano de 2004:

– Se a igreja deixar de usar o dia 25 para proclamar as verdades acerca de Jesus, ela não estaria deixando um espaço ainda mais amplo para que o mundo semeie sua “filosofia natalina”, representada pelo consumismo? A recusa da igreja em aproveitar o dia 25/12 não deixaria mais espaço à pregação verdadeiramente maligna do amor ao dinheiro?

– É claro que o Evangelho deve ser pregado em tempo e fora de tempo (II Tm. 4:2), mas a pregação do Evangelho durante o Natal não se enquadraria no “pregar em tempo”?

– A festa do dia 25/12 tem origem pagã, mas nós não usamos símbolos de origem pagã para representar coisas boas? O uso do anel de aliança no casamento não tem origem judaica e nem cristã. Provavelmente, sua origem esteja em um costume hindu. Mas, ainda assim nós usamos para representar a fidelidade que deve haver entre o casal. Por que não poderíamos usar o dia 25/12 para lembrarmos da encarnação do Verbo?

– Além de ser uma oportunidade para testemunhar ao mundo, o Natal não pode ser uma oportunidade para que Igreja “pregue para si mesma”, no sentido de refletir sobre a encarnação do Verbo?

Creio que o Natal é uma boa oportunidade tanto para a reflexão como para a pregação do Evangelho. E desejo que você aproveite o próximo dia 25 para anunciar Jesus e refletir sobre a Encarnação, o esvaziamento do Verbo, atentando para a atitude de Cristo, que embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo (Filipenses 2:6,7).

Que haja em nós o mesmo sentimento que houve N’Ele.

Em Cristo,

Anderson Paz
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