Ensino

Como levar alguém a crer?

Jesus, antes de voltar ao Pai, deu uma ordem aos seus seguidores:“Ide, fazei discípulos”. Mas, antes que alguém perguntasse “como se faz um discípulo?”, Jesus completou sua ordem dizendo: “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”. Portanto, batizar e ensinar a obedecer os mandamentos são passos, apontados pelo próprio Senhor, na obra de fazer discípulos.

Essa ordem em que aparecem os verbos “batizar e “ensinar” não está aí por acaso. Por que Jesus colocou o “ensinar” depois do “batizar”? Uma pessoa não deveria se ensinada a obedecer o que Jesus ordenou antes de ser batizada?

Ora, antes de responder a essas perguntas precisamente, precisamos levar em consideração que, na prática da igreja neo-testamentária, não havia distinção entre a confissão de Jesus como Senhor e o batismo. Não havia um hiato, um lapso temporal, entre a afirmação da fé em Jesus e o batismo. Ambos os fatos se davam juntos. Expressava-se a fé pelo batismo. Confessava-se Jesus como Senhor  em obediência ao mandamento do batismo. Somos salvos pela fé, mas a declaração de fé não se dava no atender de um apelo, ou pelo levantar de uma mão, ou pela repetição de uma oração. A declaração se completava pelo batismo. Por isso vemos que os batismos registrados no livro de Atos se davam no mesmo dia da conversão. E por isso vemos que Ananias disse ao Paulo: “E agora, que está esperando? Levante-se, seja batizado e lave os seus pecados, invocando o nome dele” (At. 22:16). A partir do batismo a igreja primitiva dizia que ali, pelo menos aos olhos humanos, havia um cristão.

Portanto, o batismo marcava o início da caminhada cristã, e a partir dele, deveria-se ensinar o discípulo a obedecer todas as ordens de Jesus. Mas, fica uma pergunta: se os mandamentos de Jesus são ensinados aos batizados, que conteúdo deve ser ministrado para que alguém seja batizado?

Ora, sabemos de que a condição para o batismo é a fé. E isso tem tudo a ver c0m o tema da regeneração, pois “todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (I Jo. 5:1). O conteúdo a ser ministrado é aquele que produz fé. E que conteúdo é esse? Paulo faz essa pergunta ao dizer: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm. 10:13,14). E Paulo, no decorrer do mesmo capítulo, declara: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm. 10.17).

Talvez nem todos percebam, mas no Novo Testamento “pregação” e “ensino”possuem conteúdos diferentes. A palavra “pregação” é a tradução do termo grego “kerigma”, que também pode ser traduzida como “proclamação” ou “anúncio”. Já a palavra “ensino” é tradução do termo “didaké” ou de seu sinônimo “didaskalia”, que também é traduzida como “doutrina”. De didaké vem a nossa palavra “didático”. É interessante observar que Jesus, em todas e cidades e aldeias, ensinava e pregava (Mt. 4:23; Mt. 9:35).  Também é interessante notar que Paulo define o ministério dos presbíteros como aqueles que se dedicam a ensinar e pregar (I Tm. 5:17).

O kerigma é a pregação, a proclamação de um fato, de uma verdade. E que fato devemos pregar? O fato Cristo: sua encarnação, sua morte e ressurreição, a obra de redenção, sua exaltação ao lado do Pai, seu Senhorio sobre todas as coisas.  São desses temas que se ocupavam a pregação apostólica. Exemplo disso é a pregação de Pedro no Dia de Pentecostes. Cristo é o tema, o início, o fim, o conteúdo da pregação apostólica. Por isso Paulo afirma: “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor” (II Co. 4:5). E é essa pregação que produz .

O termo didaké aparece no Novo Testamento relacionado à transmissão de mandamentos que revelam a vontade de Deus. Por isso Jesus disse:“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. No fim do discurso conhecido como “Sermão do Monte”, as multidões se maravilharam da doutrina de Jesus (Mt. 7:28). E percebemos que essa doutrina consistia em mandamentos claros e práticos. O tom da didaké é imperativo, pois se dirige a quem crê em Jesus como Senhor. Portanto, não são sugestões ou conselhos. São mandamentos. Enquanto o kerigma (pregação) produz fé, a didaké (ensino) orienta essa fé.

Para que formemos uma comunidade de pessoas realmente regeneradas, nascidas de novo, precisamos pregar Jesus. Isso pode parecer uma coisa óbvia, mas precisamos pregá-lo como apresentado nas Escrituras. Infelizmente, a visão de muitos sobre Jesus se encontra embaçada ou distorcida. Mas precisamos ter uma visão renovada, e a glória dEle deve resplandecer em nossos corações. Só aí veremos pessoas com fé suficiente para obedecê-lo, para cumprir a didaké.

Em Cristo,

Anderson Paz 
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