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A polêmica das girafas diabólicas

Um comentário sobre a recente “polêmica” envolvendo girafas e pactos satânicos

Vimos nos últimos dias uma brincadeira no Facebook que virou febre. Para alguém que ainda não tenha visto, vai uma rápida explicação. A brincadeira consistia em responder a um enigma. Quem errasse deveria como prenda substituir sua foto de perfil pela foto de uma girafa.

A brincadeira até estava divertida, apesar de infantil e de estar bem atrasada em relação aos gringos que lançaram a moda há algum tempo. Fui desafiado e aceitei. E eu achando que tudo ia ficar por aí, apenas mais uma modinha engraçadinha passando pela rede. Mas não foi assim. Para minha perplexidade, um dia depois do início da moda estourou a bomba.

Um texto de teor duvidoso alertava a todos que não entrassem na armadilha de Satanás para estabelecer pactos involuntários. As reações foram as mais variadas. Vi muita gente recuar das brincadeiras por causa da dúvida. Vai que é coisa do diabo? Sei lá! Na dúvida prefiro tirar.

Vi gente revoltada com a absurda falta de coerência e lógica na advertência e até mesmo quem declarou ter vergonha dos que acreditaram. Eu pensei mais de uma vez se deveria ou não escrever me posicionando, mas percebi algo muito ruim em todo esse movimento e gostaria de compartilhar.

Antes de qualquer coisa eu não acredito em pactos involuntários. E esse não é o motivo da minha tristeza com tudo que aconteceu, mas o que a crença neste tipo de pacto revela. Creio que muita gente prefere crer na grandeza do poder do diabo do que na supremacia do poder de Deus. Isso é grave.

Sei que nosso inimigo é astuto e cheio de armadilhas fatais destinadas a desviar os santos do caminho do Senhor. Não devemos ignorá-lo. Mas também creio que superestimar Satanás é um erro tão grave quanto agir como se ele não existisse. Crer que a ação de Satanás seja através de estratégias tão medíocres, como a que foi alardeada, tira o nosso foco do real perigo que corremos por outros tiros que o inimigo dirige a nós.

Despender tanta força para compartilhar um medo da possível ação de Satanás nos distrai do quanto ele consegue terreno em nossas vidas através do pecado. Essa sim uma porta legítima para ação profunda do diabo. E como pecamos por não amarmos nossos irmãos ou por negligenciarmos qualquer trabalho não atenda aos nossos interesses pessoais! Isso deveria ocupar mais o nosso zelo.

E como fica o tempo que gastamos com coisas que claramente vão contra os valores de Cristo mas que consumimos com a justificativa de entretenimento? E como fica o fato de estarmos mais interessados em falar de polêmicas do que em partilhar da Palavra que é útil para transformar o homem e apresentá-lo aprovado diante de Deus?

Pensem comigo: não faria mais sentido que partilhássemos experiência de vida que testificasse da reforma que a Palavra posta em prática tem realizado na nossa vida? Não seria mais proveitoso usar nosso tempo para compartilhar aquilo que estimule uma santa curiosidade nos homens que ainda não conhecem a vida de Cristo a conhecer seu amor e poder? Mas ao invés disso gastamos nosso tempo com medo de girafas.

Não queria gastar tempo falando sobre o absurdo que é crer que a foto de um animal possa ser algo maligno e a porta de entrada para o adversário em nossas vidas. Mas vamos pensar um pouco nisso. Se a girafa é um animal que remete a sensualidade, por que Deus o conservou na arca de Noé? Não seria mais coerente exterminá-la, diminuindo assim o rol dos inimigos de Deus? Um amigo meu postou em tom de brincadeira a foto de uma girafa como foto de perfil com a legenda: O cara da foto anterior é pior do que esse animal.

Não existem coisas muito mais importantes para dirigirmos nossa atenção? Vamos nos preocupar realmente com o zoológico do Facebook quando uma multidão de pessoas é levada de um lado para outro como ovelhas que não têm pastores? E pior ainda quando isso ocorre por nossa própria negligência.

Eu sei que alguns podem me considerar melodramático demais. Mas creio que não é exagero pensar que muitos na igreja em nosso tempo estão como Paulo escreve aos Éfesios: “como crianças levadas de um lado para o outro por todo tipo de ventos.” (Ef 4:14). A advertência de Paulo a nós é que devemos andar de maneira digna da nossa vocação. Porém estamos tão distraídos que perdemos de vista a vocação que temos. A vocação de nos parecer com Jesus em tudo que fazemos, em toda atitude, em todo raciocínio. Ao invés disso limitamos o espaço que damos ao Senhor reservando para Ele apenas parte da nossa vida. Isso, quando reservamos.

Creio que com tudo isso deveríamos nos analisar: quanto de nossa vida é guiada pelo que já sabemos que Deus quer e nós? Quanto de nossa vida ainda está pautada na dúvida quanto ao que realmente agrada a Deus? Paulo fala aos Romanos que “tudo que não provém da fé é pecado”(Romanos 14:21-23). Será que não estamos muito preocupados com as dúvidas quanto a girafa demoníaca ao invés de praticar o que temos certeza que Ele espera de nós?

Parece que preferimos crer na grandeza do poder de um diabo extremamente sagaz a conhecer a profundidade, riqueza e largura do amor de Deus. Só podemos ter esse conhecimento à medida que nos relacionamos com Deus, mais e mais a cada dia. É triste ver que muitos acreditam tanto numa versão megalomaníaca do diabo e numa versão tão raquítica de Cristo Jesus.

A Bíblia diz que, “Cristo, despojando aos principados e potestades triunfou sobre eles na cruz do calvário”. Isso significa que Cristo, ao derrotar a Satanás, teve uma vitória massacrante. E isso não foi porque Jesus queria humilhar a satanás de maneira sádica. Paulo quer nos mostrar que a supremacia do poder que atuou em Jesus é infinitamente maior do que o diabo. O mesmo poder que está nós. O mesmo poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos repousa em todo nós que temos o Espírito Santo atuando em nossas vidas.

Agora me diga: qual a chance de um poder tão supremo ser enganado por uma ralé de pixels formando a imagem de um animal criado por Deus? Gostei muito do que meu amigo Anderson Paz escreveu na fanpage do Conexão Eclésia sobre o ocorrido:

***

NÃO EXISTEM PACTOS INVOLUNTÁRIOS COM O DIABO!

“A menos que vocês me provem pela Escritura e pela razão que estou errado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa a Palavra de Deus” (Lutero).

Para minha surpresa, vi muita gente preocupada com a possibilidade de ter feito um pacto involuntário com o diabo. Esse pacto teria sido feito por meio de uma brincadeira no Facebook: você recebia uma charada, e se errasse a pergunta, você teria que trocar a foto do seu perfil pela foto de uma girafa por três dias. E pronto! Um suposto pacto involuntário estava feito com o diabo.

Se quisermos olhar para a Bíblia, veremos que não existem pactos involuntários. Isso mesmo: NÃO EXISTEM!

Basta refletir um pouco sobre o ensino de Paulo sobre a carne sacrificada a ídolos (I Co. 10:25-31). Ele ensinou aos Coríntios que se eles não soubessem a origem da carne, e se esta tivesse sido sacrificada aos ídolos, não teria problema algum em comer. O motivo para não comer carne sacrificada não era porque ela trazia algum mal em si mesma. O motivo é a consciência.

O ensino de Paulo é muito claro. E agora, e só fazer uma reflexão: se nem a carne sacrificada pode te fazer mal, você acha que a foto de uma girafa poderia fazer?

Precisamos nos voltar para as Escrituras, e confiar na graça de Deus.

Em Cristo,

Anderson Paz

***

Se alguém tem alguma dúvida em que tudo isso pode ser útil à igreja de Jesus, eu diria que existe uma contribuição que pode ser a maior contribuição para todos nós. Na verdade, trata-se de uma reflexão: como está a minha vida em relação à vocação de Deus para mim? Porque se não estamos atentos aos alvos específicos para nossas vidas (como um filho obedecer seus pais; um homem casado amar sua esposa como Cristo amou a igreja, por exemplo) corremos o risco de estar sujeitos ao engano. Talvez não pela “girafa do inferno” mas sim por algo muito mais grave e com consequências maiores para nossas vidas.

Devemos considerar com seriedade em oração todas essas questões e pedir a Deus graça para nos conduzir de maneira digna do seu chamado. Que Ele nos livre de enganos.

No amor de Jesus

Filipe Flexa
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