Reflexões

Não dá pra esquecer

Não são necessários muitos anos de vida cristã para sabermos que perdoar não é uma opção na vida de um discípulo de Jesus, mas é um dever. Aliás, não há como seguir Jesus com um coração resistente a perdoar.

Desde o início aprendemos com a oração do Pai-Nosso: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt. 6:12). Mas nem todos têm clareza sobre o que é perdão. Existem muitas conceitos errados sobre o tema e devido à extrema importância do assunto, precisamos ter muto claro em nossas mentes e corações o que é o perdão.

Certamente não há pessoa melhor para nos ensinar esse tema do que o próprio Deus, pois devemos perdoar como Ele nos perdoou: “Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef. 4:32). O Salmo 103, ao exaltar as virtudes de Deus, declara: “É ele que perdoa todos os seus pecados” (v. 3). E ao longo do texto, o autor mostra como esse Deus perdoador se relaciona conosco:

“O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões” (v. 8-12).

Deus nos perdoa quando decide não nos tratar conforme os nossos pecados, não nos retribuindo segundo merecemos. Ou seja, Deus nos perdoa ao decidir que Seu relacionamento conosco não será determinado por nossos erros. E é assim que devemos perdoar, como Ele nos perdoou. O mal que alguém pode me causar não pode determinar o meu relacionamento com essa pessoa.

Além disso, a Bíblia também nos ensina que, ao nos perdoar, Deus decide não se lembrar mais de nossos pecados. Contudo, essa verdade pode levantar em nós a seguinte dúvida: “Se Deus não se lembra mais dos meus pecados, ao perdoar alguém eu também devo me esquecer dos seus erros? É possível apagar da minha memória o dano sofrido?”

Precisamos considerar que o fato de Deus não se lembrar dos nossos pecados, não significa que Ele sofra de amnésia ao nos perdoar. Muito pelo contrário, Ele é onisciente, e todas as coisas estão claras aos Seus olhos. Portanto, Deus não esquece de nossos pecados quando nos perdoa, mas Ele decide não os levar em consideração para nos condenar. Se Deus nos tratar conforme o nosso pecado merece, há muito já teríamos sido condenados. Mas uma vez que alcançamos o perdão de Deus, nossos pecados não serão lembrados em juízo, não serão lembrados para nossa condenação. Todavia, Deus se lembra dos nossos pecados com outro propósito: o de nos aperfeiçoar, nos corrigir: “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho… para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade” (Hb.12:6,10). Por nos perdoar é que Ele nos corrige. Somos repreendidos pelo Senhor para que não sejamos condenados com o mundo (I Co. 11:32).

Portanto, perdoar não é esquecer, negar o pecado, ou diminuí-lo. O dano sofrido continua existente em nossa memória, mas ele não pode determinar meu relacionamento com a pessoa que o causou. Afinal, “se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber” (Rm.  12:20).

Considerando que nossa memória não é apagada, também é importante ressaltar que nossa confiança na pessoa que nos ofendeu não é automaticamente restaurada. Confiança é coisa que se constrói ao longo do tempo. De fato, perdoar não significa a restauração imediata da confiança, mas consiste em demolir os obstáculos que possam impedir sua reconstrução. É deixar espaço, sem colocar barreiras, para que a confiança possa ser conquistada novamente, a tal ponto que ela, com o passar do tempo, possa ser igual ou maior do que a que existia antes da ofensa.

Portanto, não existe o perdão sem a disposição de deixar que a confiança seja restaurada. Ao perdoar, permita que a pessoa ofendida reconstrua a confiança. Lembre-se que os muros que levantamos para nos proteger são os mesmos que nos separam. Perdoar é abrir a possibilidade de reconstrução de relacionamentos.

Decida hoje seguir nos passos do nosso Senhor, e tenha um coração perdoador.

Em Cristo,

Anderson Paz 
Twitter: @andersonpaz
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